O labirinto grego
12/03/12 18:44O economista Fernando Sampaio, sócio-diretor da LCA consultores, fez um pequeno comentário sobre a crise econômica na Grécia que gostaria de dividir com os leitores deste espaço. É sucinto e bastante informativo sobre a crítica situação do país.
O labirinto grego
O fechamento do acordo para o refinanciamento de uma parte da dívida da Grécia (ou seja, a troca de títulos próximos de vencer por novos títulos, cujo valor total é bem menor, cujo prazo de vencimento é maior e que pagam juros mais baixos do que aqueles que os investidores vinham exigindo para emprestar para a Grécia) provocou alívio porque afastou o receio de que bancos importantes, ao sofrer perdas com títulos gregos, estivessem na iminência de falir.
Do ponto de vista das perspectivas da Grécia, predomina um justificado ceticismo. Em contrapartida ao pacote de refinanciamento, o país se comprometeu com metas draconianas: por exemplo, reduzir o gasto público em 30% nos próximos cinco anos; reduzir o contingente de funcionários públicos em 150 mil pessoas nesse período; e reduzir em 22% o salário mínimo. Tamanho corte de gastos terá inevitável efeito recessivo (se for levado a cabo –o que poderá se revelar infactível, não só politicamente, mesmo economicamente). Tamanho corte de empregos inevitavelmente pressionará a taxa de desemprego, que já está em altíssimos 21% da PEA. E tamanho corte do salário mínimo evidentemente deprimirá ainda mais o consumo das faixas da população grega de renda mais baixa.
O PIB grego já caiu 13,2% desde o início da recessão, em 2008. Diante das medidas prometidas, não surpreende que os analistas privados prevejam novas quedas do PIB em 2012 e 2013. E que haja enorme dúvida quanto à factibilidade da alta de 2% do PIB prevista para 2014 nos cálculos que embasaram o acordo de refinanciamento.
É forte a impressão de que para sair da perspectiva de uma recessão sem fim a Grécia precisa muito reforçar a competitividade da sua economia. Também é forte a dúvida sobre as chances de sucesso de uma recessão infindável como meio para baratear, em termos relativos (ou seja, nas moedas dos parceiros comerciais), a produção grega. É bem possível que o tempo revele que a Grécia não tem alternativa senão desvalorizar sua moeda – e obviamente a dificuldade é que ela, ao aderir ao euro, abdicou de ter uma moeda própria. Ninguém sabe como poderia ser operacionalizada uma saída do euro, nem os impactos que a atitude teria. Ninguém sabe chegar à saída do labirinto.
É bom o comentário mesmo…
Puxa, quanta novidade!