Um caso ilustrativo da eleição russa
07/03/12 14:33Estou de volta a Londres, mas ainda tenho algumas observações a fazer sobre a Rússia. O episódio que relato abaixo ilustra bem o quanto o resultado da eleição de domingo no país era “imprevisível”.
No sábado à tarde, estava caminhando pela praça Manej, nos arredores do Kremlin, com a jornalista Marina Darmaros me ajudando na tradução e na apuração. Vimos que estavam começando a montagem de uma estrutura no local, e imaginamos que fosse para as celebrações da Nashi, organização da juventude pró-Putin.
Marina então abordou um policial da Omon, a temida tropa de choque do país, perguntando o que aconteceria ali no dia seguinte. A resposta: “Fomos informados de que amanhã haverá o discurso do vencedor das eleições presidenciais aqui”.
Pensamos que aquilo era muito estranho e não fazia sentido. Afinal de contas, faltavam mais de 24 horas para que começasse a apuração dos votos na Rússia; haveria um compromisso já pré-estabelecido com os cinco candidatos, embora Putin fosse amplamente favorito?
Não. Antes mesmo de começar as eleições, as Forças Armadas e a polícia da Rússia já sabiam de forma razoavelmente segura quem ganharia a disputa.
De fato, as fraudes não foram o fator decisivo para Vladimir Putin, mas pode-se dizer que houve alguma disputa democrática no país?
O palco estava pronto para o discurso do “czar Putin” antes do término das eleições. Tal fato reforça a tese de que não existe democracia no Kremlin.
Acho que não é possível afirmar que as fraudes não foram fator decisivo.
Democracia já está morta e enterrada a mto tempo, se ela existiu um dia…
Pois é, estranho é pouco.